Archive for junho \28\-03:00 2014

transmídia

28/06/2014

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 27/06/2014

Errei. (Viva o erro!) Logo no início da Copa, escrevi que o número muito pequeno de ruas enfeitadas de verde e amarelo indicava mudança dramática de mentalidade no Brasil. Não haveria mais evento capaz de unificar a nação. Passaríamos a viver numa fragmentação “desenvolvida”, com oferta abundante de grandes emoções minoritárias. Não foi o que aconteceu. Mais uma vez o Brasil parou por causa do futebol. Não há espaço para outros assuntos, mesmo os mais surpreendentes.

Por exemplo: pelo que consegui apurar, nunca na história deste país houve interrupção tão longa na exibição de uma telenovela como a que aconteceu em “Geração Brasil” na semana passada. No lugar de oito capítulos só foram ao ar pílulas de alguns minutos, em horário diferente do habitual. Durante esse período foi feita uma das experiências mais radicais, em qualquer lugar do mundo, em termos daquilo que é chamado de “transmídia”. Como a imprensa, tomada pela Copa, não acompanhou os resultados, sinto obrigação – para que outras pessoas possam se animar a propor coisas semelhantes – de dar meu depoimento, mesmo sem distanciamento, como membro da equipe da novela.

Praticamente a mesma equipe – capitaneada pelos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, pela diretora Denise Saraceni e, do lado da internet, por Ana Bueno – já tinha se empolgado com a maneira como o público respondeu ao “vazamento” do clipe das Empreguetes de “Cheias de charme”. Acompanhei tudo em tempo real, final de capítulo de sábado. Quando o link completo para o clipe apareceu na internet da novela, o público entendeu imediatamente que poderia ver a mesma coisa na internet “de verdade”. Os servidores não estavam preparados para tantos acessos simultâneos, tanto que demorei para conseguir abrir o link no meu computador.

Na segunda-feira, quando “Cheias de charme” recomeçou, já eram milhões de “views”. Havia até centenas de paródias do clipe circulando em várias redes sociais. Não esperávamos tanto sucesso. Outras experiências cross-plataformas aconteceram mundo afora. Mas nunca houve nada tão propriamente popular. Participei de alguns congressos internacionais sobre “convergência” de mídias. Só ouvia elogios para “cases” bem modestos, em termos de alcance de público, como provas de bom futuro para esse tipo de experiência. Quando eu citava os números da novela, pouca gente acreditava. Mesmo no Brasil, aquilo não foi tratado com a atenção dispensada para inovações da mesma importância. Talvez pouca gente tenha se dado conta do ocorrido. Ou prefira continuar pensando novela como ambiente de criação ultrapassado, nunca de vanguarda. (Gente “séria” só elogia série americana.)

Geração Brasil deu um passo adiante. No capítulo anterior à interrupção da Copa, dois personagens, Davi e Manu, participando de um reality show transmitido pela Parker TV, canal a cabo que só existe na ficção, lançaram um aplicativo para smartphones que precisava virar hit. Tudo bem metanarrativa: o público “real” deveria se transformar também em personagem, passando a baixar o app como se fosse o público da Parker. O desafio possuía aspectos mais complexos. Em “Cheias de charme”, era necessário apenas apertar o botão de “play” para ver o clipe. Agora, além da instalação, seria preciso também produzir vídeos segundo os desafios propostos em cada pílula diária da novela (alguns dos vídeos do público eram exibidos no dia seguinte, passando a fazer parte da trama “real” da novela).

Foi risco enorme de “flop” ou “fail”. Nenhuma outra produção da TV mundial tentara isso antes. A novela estava apostando no crescimento recente do uso de smartphone no Brasil. Somos o quarto mercado consumidor desse novo tipo de telefone, depois da China, dos EUA e da Índia. Calcula-se que até o final de 2014, teremos 41 milhões de usuários de smartphones no país. Mas quem é o usuário típico dessas novas máquinas? Vê novela? Está disposto a participar de uma brincadeira proposta pela novela das 7?

Continuo impressionado com a voracidade da adoção popular das novas tecnologias por brasileiros. “Filma-ê”, o app de “Geração Brasil” foi baixado mais de 250 mil vezes. Esse número, na semana do lançamento (e na semana de início da Copa, com o país parado para a Copa), significa sucesso estrondoso em qualquer mercado, para qualquer tipo de aplicativo. Não fico contente por ser proposta de novela na qual colaboro. O entusiasmo vem da abertura de espaço para mais experimentação no futuro, entre o produto mais “mainstream” da nossa TV, a novela, e a aventura da tecnologia de ponta. Quero acreditar, no espírito da Copa, que não existe laboratório melhor do que o Brasil para testar essas coisas. Povo fominha de inovação: esse é estereotipo bom de carregar/viralizar, pois torna tudo imprevisível.

Abul Abaz

21/06/2014

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 20/06/2014

Ontem foi dia de Corpus Christi. Em Pirenópolis, Goiás, essa data marca o início da Cavalhadinha, uma versão infantil – para menores de doze anos – da Cavalhada realizada durante as homenagens ao Divino Espírito Santo, duas semanas atrás. Como em muitas de nossas festas populares, as crianças fazem “mash-up” de elementos brincantes com procedências diferentes. Já escrevi que muitos mestres de brincadeiras brasileiras atuam com DJs misturando ousadamente várias tradições, inventando outros futuros para a vontade geral de festejar. A Cavalhadinha reúne “Imperador do Divino, Reis e Rainhas do Reinado de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, Pastorinhas, Congo e Contradança, catira feminina, Cavaleiros e Mascarados com seus cavalinhos de pau.”

De forma vigorosa, Pirenópolis realiza aquilo que Agostinho da Silva identificava como meta do “povo português”: “que a criança deve ser proclamada imperador do mundo, que é ela que tem que mandar no mundo e que é na medida em que manda que o mundo pode realmente melhorar.” Assim, todos podemos experimentar, na hora da festa, uma prévia da Idade do Espírito Santo: “do imprevisível, isto é, do gênio criador, plenamente solto de qualquer espécie de limitação.” O Divino “voa aonde quer”.

Interessante é ver essa vontade de “eliminar limitações” conectada, no cerrado brasileiro, com a reencenação de torneios medievais que, por sua vez, reencenavam descrições poéticas de batalhas entre cristãos e muçulmanos (ou mouros). Uma das fontes principais para essa memória popular foram “canções de gestas”, principalmente aquelas sobre as aventuras do imperador Carlos Magno e seus “Doze Pares da França”, a partir da emboscada em Roncesvales (na verdade, o ataque surpresa foi feito por bascos, mas a imaginação de trovadores preferiu editar a História para culpar o Islã).

Estamos em 2014, época de muitas lembranças bélicas. Além do centenário da Primeira Guerra Mundial e dos 70 anos do Dia D, talvez fosse importante guardar um tempo para recordar também os 1.200 anos da morte de Carlos Magno, provavelmente um dos criadores da ideia de Europa como civilização cristã e “ocidental”. Sua importância não pode ser menosprezada. O historiador Jacques Le Goff, que morreu este ano (tenho que escrever coluna em sua homenagem), afirma – em “A Idade Média e o dinheiro”, leitura excelente para momento de Piketty-celebridade – que Carlos Magno, em seu império, criou “um cenário muito mais bem ordenado quanto à moeda”, acabando com a descentralização da cunhagem por moedeiros, criando as bases primitivas para surgimento do capitalismo muitos séculos depois.

Mas não é sobre dinheiro que quero falar aqui. Não sei como veio parar nas minhas mãos o livro “Tornando-se Carlos Magno”, de Jeff Sypeck (professor de literatura medieval na Universidade de Maryland). São poucos os documentos históricos com informações sobre esse momento conturbado. Sypeck romanceia a partir dos dados disponíveis, mesmo tentando ir além da atmosfera carregada por mitos. Encontramos cenário bem mais complexo que aquele das cavalhadas, com divisão clara entre cristãos e mouros. As relações entre Aachen, pequena vila que se transformou em capital imperial, com os papas de Roma eram intricada rede de intrigas. No Oriente, havia Irene, comandado outro império, o bizantino, e se defendendo dos ataques de Bagdá, onde reinava o califa Harun al-Rashid. No extremo ocidental, na Península Ibérica, o Califado Omíada, expulso de Damasco para Córdoba pelos antecessores de Harun. Para lidar com tantas diferenças, Carlos Magno, além de guerreiro, foi hábil diplomata.

E que diplomacia. O trecho que mais me surpreendeu no livro trata da embaixada que Carlos Magno, procurando aliados contra Constantinopla e Córdoba, mandou para Bagdá. Dos três emissários, o único que retornou, cinco anos depois, foi um judeu chamado Isaac. Sim, um judeu, com missão de negociar com governo que controlava Jerusalém. Seus companheiros de viagem, Lantfrid e Sigimund, morreram no caminho. Porém, Isaac não voltou sozinho. Estava acompanhado por Abul Abaz, um elefante. Sua chegada em Aachen tem data precisa: 20 de julho de 802. Portanto, desconfio que não seja pura invenção de cronista maluco.

O elefante era presente do califa Harun para Carlos Magno. Causou espanto onde passava, não era um animal comum mesmo no norte da África. Imagine num barco cruzando o Mediterrâneo até aportar em Gênova, e depois atravessando paisagens alpinas. Abul Abaz, era esse o nome do elefante, virou meu herói, ponte gordinha contra o “clash” das civilizações. Deveria virar personagem da Cavalhadinha de Pirenópolis, entre os mascarados coloridos. Afinal, tradição é para ser renovada. Sempre.

multiplex

14/06/2014

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 13/06/2014

Em 1978, foi realizado o primeiro festival internacional de jazz em São Paulo. Acompanhei todas as oito noites de shows, de Piazzola a McLaughlin, pela TV. Sim, a TV transmitiu tudo, para todo o país. Inclusive as várias horas, já na madrugada, da apresentação apoteótica de Hermeto Pascoal. Ficou bem marcado no recanto mais alegre da minha memória o canto de Hermeto chamando convidado especial para a festa de improvisação radical: “Stan Getz / vem cá / tocar / um forró”. Reencontrei esta semana a gravação desse encontro na internet. OK, boa redescoberta. Mas eu não deveria estar escrevendo uma coluna sobre a Copa iniciada ontem?

Meu assunto é Copa. Recomeço: não sonhei, o festival foi realmente transmitido pela TV. Hoje, mesmo a TV Educativa (se existisse ainda com esse nome) não faria aquela transmissão, ao vivo, integral. Porém, naquela época, eram tão raros eventos de grande porte no Brasil, que todos ganhavam cobertura eufórica (temos festival de jazz!) da mídia ainda bem centralizada (não havia nem computador pessoal). Logo depois, o Rock in Rio também “parou” o país. Nina Hagen ganhou fotos nas primeiras páginas dos jornais. Atualmente há até saturação de festivais de música. Por mais bem promovidos, é cada vez mais difícil que ultrapassem os limites de seu nicho. O mercado de entretenimento e eventos cresceu loucamente (se multiplexificou – como compôs Caetano e canta Gal, “neguinho também só quer saber de filme em shopping”) no Brasil. O crescimento inclui, talvez necessariamente, fragmentação para públicos de interesses diversos. Todos levando desvantagens e vantagens em tudo.

Morei por um ano em Chicago, no início dos anos 1990. Já havia mais de uma centena de canais na TV no cabo. Não me lembro de ter visto a cidade ou a mídia ser tomada por um único assunto, a não ser a Guerra do Golfo (com aquelas fitas amarelas em casas e prédios). Talvez tenha percebido um número exagerado de camisetas de feira hippie no dia que o Grateful Dead tocou no estádio Soldier Field. Quando o Chicago Bulls ganhou – depois de vários anos sem títulos – o campeonato principal do basquete dos EUA, tive que andar muito para encontrar comemoração de rua. Nenhum acontecimento parecia ter o poder de contagiar todos os grupos sociais no mundo “desenvolvido”.

Chegando então na Copa: a evidência de que não vemos todas as ruas pintadas de verde e amarelo é, para além dos protestos contra os gastos com o evento, sinal também de “desenvolvimento”, que “chegamos lá” com mercado diversificado, que nunca mais seremos “possuídos” por uma “primitiva” paixão coletiva? O Brasil deixa de ser aldeia isolada, e vira terra complexa não mais controlada por pauta comum de sentimentos e atividades? O multiculturalismo venceu? Nossa identidade vai ser cada vez mais múltipla, com mundos (mesmo enormes) separados?

Recomendo a leitura de “Formação da culinária brasileira”, livro de Carlos Alberto Dória que certamente é um dos lançamentos mais importantes deste ano (antigamente seria mais fácil dizer: “ano de Copa”). Posso, irresponsavelmente, tentar resumir seu argumento em poucas palavras: o paladar no Brasil vive momento de grande transformação, deixando de lado o amálgama de pratos/receitas que encantavam, por motivos diferentes, Gilberto Freyre e Camara Cascudo, e passando a realizar experiências baseadas em “ingredientes” (incluindo as Pancs – “plantas alimentícias não convencionais”), em atitude pós-‘terroirs’ (DOCs, AOCs etc.), e talvez já pós-“locavorismo” (o restaurante Noma não é mais novidade). Um dos sintomas: o arroz e feijão de todo PF cede lugar à profusão de cores de gastronomia por quilo, cada vez mais eclética (muitos cartazes propagandeiam orgulho de oferecer chia ou quinoa) e popular. Dória mostra como essas tendências todas são produzidas num caldeirão de discursos políticos, econômicos, médicos, ambientalistas, nutricionistas, resultando em identidades (com pé na cozinha) rapidamente mutantes.

Não parece mais haver espaço para o processo descrito no livro “Pasta e pizza”, de Franco La Cecla (lançado pela Prickly Paradigm Press, pequena editora de Chicago já elogiada por aqui), de invenção da culinária nacional italiana. Ali aprendemos que foi só no final do século XIX, início do século XX, que o macarrão se difundiu pela Itália, também com a ajuda dos imigrantes que já viviam no continente americano (e não foi Marco Polo quem trouxe a “pasta” da China). O mundo era bem mais simples e pitoresco naquela época? Questão de ponto de vista. Hoje a culinária italiana voltou a ser quebra-cabeça de gostos regionais, em mercado globalizado cada vez mais “sofisticado”.

Então estamos aqui, com nossos paladares voláteis e micropaixões contraditórias. Precisamos ser seletivos, cuidadosos: boa Copa para quem gosta de Copa.

Dorival Caymmi e a medicina da alma

07/06/2014

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 06/06/2014

Ainda é tempo de celebrar o centenário de Dorival Caymmi. Gilberto Gil, na canção “Buda nagô”, afirma que Dorival é, entre muitas outras coisas, índio. Então faço um remix Gil & Jorge. Pego “todo dia era dia de índio” e decreto: “todo dia é dia de Dorival”. Deveríamos acordar sempre, todo dia, não só em 2014, cantando Dorival.

Participei de entrevista com Dorival quando ele fez 80 anos. Havia redes no cenário. Chegando ao local da gravação, Dorival comentou, incomodado: “sempre pensam que vivo deitado numa rede.” Não vivia: ele passou grande parte de sua vida como cidadão de apartamento de Copacabana. Contradição? Só na cabeça de quem o imaginava isolado em aldeia de pescadores sem contato com a modernidade. Volto a “Buda nagô”: “Dorival é impar / Dorival é par”.

Por um período, eu passava frequentemente na calçada de seu prédio de Copacabana. Era muito bom encontrá-lo na janela, olhando o movimento da rua cosmopolita, com a atitude de quem estava numa pacata cidade do interior. Aquela visão iluminava meu dia. Fazia questão de cumprimentá-lo (“oi Dorival”), como se Copacabana fosse Itapuã, nos anos 1940. Tudo para ver, com os olhos bem abertos, a Copacabana do presente. O título do livro de Antonio Risério sobre Dorival é “Caymmi: uma utopia de lugar”. Encontrar Dorival na janela tinha o efeito de medicina para minha alma: transformava Copacabana, com sua beleza e seu caos, em utopia imediata.

Dorival é grego, é romano. Suas canções podem ser ouvidas como máximas de Epicuro, como cartas de Sêneca. Nada disso é garantia de felicidade geral, eu sei. E reaprendi essa lição trágica em cada página de “Medicina da alma – artes do viver e discursos terapêuticos”, livro precioso do filósofo (e também iniciado nos mistérios do samba) Paulo Henrique Fernandes Silveira. Pré-socráticos, platônicos, epicuristas, estóicos, céticos, cínicos: aquele momento do pensamento humano foi pródigo em experimentações com “pharmakon” (veneno/remédio) de todas as espécies. Paulo Henrique mostra como filósofos tentam ocupar o lugar do “therapeutés” (palavra que significa “aquele que trata ou cuida de outrem, mas também aquele que cultua os deuses”). Adianto logo a conclusão: “Independente das divergências entre as várias escolas, certos princípios norteiam as ‘therapeíai’ de que tratamos aqui. Talvez o mais importante seja a busca da autossuficiência (‘autárkeia’).” Dorival sereno na janela de Copacabana era a imagem mais justa dessa autossuficiência, como uma antena transmitindo tranquilidade para o mundo.

Na entrevista dos 80 anos, ao escutar a pergunta “quando fica triste, o que faz para recuperar a alegria?” ele respondeu “eu nunca fico triste”. Insistimos: “mas quando a tristeza vem lá longe?” Bem melhor que Prozac (será que algum psiquiatra ainda receita Prozac? saiu de moda?): “tomo água”. E começou a elogiar o azul do plástico das garrafas de água mineral, e depois o azul do papel que antigamente embrulhava as maçãs nas barracas das feiras livres. Não era um devaneio tolo. Havia bom humor budista ali, de contato radical com a realidade.

Exercício para guerreiro de Chögyam Trungpa: “Para começar, temos de olhar a realidade doméstica: as facas, os garfos, os pratos, o telefone, a lavadora, as toalhas – as coisas triviais. Nelas não há nada de místico ou de extraordinário, mas, sem um vínculo com as situações triviais, cotidianas, sem examinarmos a vida diária, nunca encontraremos nenhum senso de humor, nenhuma dignidade ou, em última instância, nenhuma realidade.” Porém, isso tem mais a ver com trecho de carta de Sêneca, que trata da futilidade de planejar o futuro: “Como fugiremos dessa inquietação? De um único modo: não deixando a vida depender do futuro, reconduzindo-a sobre ela mesma. […] Como a inconstância e as mudanças do acaso poderiam perturbar aquele que permanece estável na instabilidade?”

Permanecer estável na instabilidade. Ímpar/par. Lição da medicina da alma greco-romana. Lição de Dorival Caymmi, um dos melhores brasileiros de todos os tempos (incluindo os vindouros), cantando suas canções perfeitas, bebendo água azul, na janela de seu apartamento de Copacabana, dando outro rumo para a agitação da realidade.

*****

Ilan Waisberg, artista plástico que também faz trabalhos de cibermarcenaria (lembram canções de Dorival?), ao ler minha coluna (sobre o erro) da semana passada, gentilmente me mandou a seguinte citação de seu grande mestre Montaigne (Dorival francês?): “Sinto-me muito mais orgulhoso da vitória que obtenho sobre mim quando, no ardor mesmo do combate, deixo-me curvar sob a força do argumento de meu adversário do que me sinto gratificado pela vitória que obtenho sobre ele devido a sua fraqueza.” Palavras do lado bom da força.


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