corais

Não é tendência pós-pandemia. Há alguns anos percebo uma explosão de criatividade/qualidade nos discos lançados por corais. Passei a escutar canto coral com uma frequência cada vez maior, algo inédito na minha vida. Ainda bem que formei uma coleção poderosa, muito útil neste período trágico de confinamento. São muitas vozes para me acalmar ou me medicar com doses diárias de beleza, restabelecendo (um pouco) minha confiança no ser humano. Deixo aqui uns links para quem quiser experimentar o mesmo remédio:

Sem risco: tudo do Norwegian Soloists’ Choir. O disco com os motetos de Bach é magnífico. Mas talvez o meu preferido seja o dedicado a Grieg, outro norueguês, com influências do folclore local que chegam a doer de saudável melancolia. Mas nem tudo é calma: o coral se dedica também a muita necessária esquisitice pós-dodecafônica, de Berg e Webern a Xenakis e Lachenmann e adiante.

O Vox Luminis já lançou muitas maravilhas barrocas. Mas indico com fervor o disco com a música da Reforma, incluindo hinos compostos por Martim Lutero. Registro perfeito para o mais antigo antepassado da música Gospel.

O Vox Clamantis, da Estônia, lançou agora em maio, pela ECM, um disco chamado A harpa suspensa de Babel, dedicado à obra do compositor, também estoniano, Cyrillus Creek. Um estoniano bem mais conhecido, Arvo Pärt, tem longo histórico de colaboração com o Vox Clamantis, incluindo a maravilha que é The deer’s cry, com minhas favoritas Virgencita, uma oração em espanhol para Nossa Senhora de Guadalupe, e Drei Hirtenkinder aus Fátima, para Nossa Senhora de Fátima, peça dedicada ao pintor alemão Gerhard Richter.

O Ensemble Organum lançou crowdfunding para produzir um disco documentando seu encontro com cantores da música sufi marroquina. Islamismo. Cristianismo. Vozes misturadas, cantando juntas. Será o ponto culminante de um trabalho de pesquisa que o Ensemble Organum realiza há décadas, lançando discos com muitos dos cantos pré-gregorianos, indo até ao século VI, onde fica bem evidente o que havia de oriental lá no nascimento da música ocidental. Trabalho incansável e riquíssimo: cantos templários, moçárabes, a Escola de Notre Dame, Hildegarda de Bingen e muito, muito mais. Uma avalanche de música muito antiga que soa muito nova.

Há muitos, muitos outros corais mandando brasa. Tomara que todos consigam sobreviver ao lockdown artístico planetário.

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