Muitos amigos trabalhando, ou inventando novas maneiras de mostrar seus trabalhos para o mundo pós-pandemia. Não dá para ficar parado. Quatro exemplos animadores:
Affonso Uchoa: seu filme Sete Anos em Maio está sendo exibido online via Embaúba Filmes (vale a pena conhecer os outros títulos que estão disponíveis no site dessa valente distribuidora mineira). Forma e conteúdo impressionantes. Obra necessária para quem quiser entender como o crack se tornou parte íntima da tragédia urbana brasileira. Obra necessária para quem quiser pensar o melhor do cinema brasileiro hoje e amanhã.
Josh Krigg (ver também meu comentário sobre Bull Dancing aqui): depois do Lado 2 Stereo, do Skate Aranha, do Zula System etc., Josh se aventura solo (mas tendo como parceiro Andy Newmark, simplesmente o baterista do Sly & the Family Stone em Fresh – segundo Brian Eno o disco pioneiro em colocar a bateria no lugar certo da mixagem – e de muita coisa de John & Yoko). Na música publicada agora na quarentena ele aconselha: Calm down, my brother! A exclamação no título é apropriada, Josh sabe bem do que está falando/cantando: ele também produz calma, no corpo, sendo mestre, via Zoom, de “meditação física”, uma prática que inventou em algum lugar entre Teresina e Amsterdam, entre o Método Feldenkrais e a Psicomagia.
Beto Villares: lançou seu segundo disco, Aqui Deus Andou, no início de março, pouco antes do confinamento. Pena, não deu nem para anunciar direito a boa notícia. O som é ótimo para “desatar o nó”, para não afundar, para não empacar em nossas casas hoje fechadas (“já que o mundo já não é o mesmo”): “sonha com sonhos mais altos”. Com direito a duas faixas instrumentais, Festa Baile e Ôôô (viva Teixeira de Manaus!), além do solo em Minha Lua, que provam que Beto é mestre em guitarradas variadas, um dos grandes guitarristas do Brasil.
Leandro Lehart: seu disco Sincretismo, lançado no meio de abril em pleno confinamento, abre com Sorriso aberto, a solução para a depressão compartilhada por Jovelina Pérola Negra. E segue com seleção magnífica de sambas, quase todos recentes, mas com arranjos percussivos de batuques afrobrasileiros de várias procedências temporais. É a história do samba em deliciosa confusão (urbana, suburbana e rural como queria Paulo Moura, em disco também com capa de Elifas Andreato), de um jeito que só Leandro Lehart é capaz de (re)inventar. Tudo nivelado um alto astral.
Nos tempos de agora, tudo isso é milagre.
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