Archive for the ‘África do Sul’ Category

complementos Ilustríssima

27/09/2020

RECONVEXO

Hoje foi a estreia da minha nova coluna mensal no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo. São apenas 4.600 caracteres com espaços. Muita coisa importante ou interessante ficou de fora. Vou aproveitar este blog para comentários e links que complementem o que publiquei por lá. Estas listas de links são úteis para mim também. O blog vira uma espécie de aba de bookmarks pública. Para não esquecer…

Primeiro: o endereço do Instituto Mancala, fundado por Igor Miranda. O site do ContraCovid. O Oguntec do Instituto Steve Biko. Informações sobre Igor Miranda no Instituto Serrapilheira e na Universidade Federal do Recôncaco Baiano (UFRB).

A UFRB está completando 15 anos. O Recôncavo vem passando por uma excelente experiência universitária pública neste desafiador início de século. Além desta nova Federal temos também o Campus dos Malễs da UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) trazendo muitos estudantes de países africanos para o município de São Francisco do Conde (terra de meu amado Lindro Amor). É um laboratório de novos encontros pedagógicos, culturais, científicos e muito mais.

Acompanho com alegria, por exemplo, o desenvolvimento do trabalho do botAfala. Esse link, que por coincidência tem a ver com o post anterior deste blog, leva para o site Filosofia Pop, iniciativa valente liderada por Marcos Carvalho Lopes, que hoje é professor na UNILAB, mas que conheço desde sua fase goiana. O Filosofia Pop tem também um podcast. Recomendo com entusiasmo episódios mais recentes com entrevistas com filósofos africanos José P. Castiano, Filomeno Lopes e Severino Ngoenha. Que trio fascinante. Tomara que esse tipo de iniciativa contribua para o fortalecimento do intercâmbio filosófico Brasil-África.

Aproveitando o embalo: texto que publiquei anos atrás, também na Folha de S. Paulo, com proposta de descentralização de nossas relações acadêmicas internacionais.

MAIS IA

O convite para a coluna surgiu depois da publicação de meu texto sobre inteligência artificial também na Ilustríssima. Do momento da escrita para cá quanta coisa nova aconteceu ou quanta coisa nova aprendi no campo do machine learning. As coisas estão frenéticas. E também cada vez mais polêmicas, em várias frentes. Mais links:

  • as expressões “opressão algorítimica” ou “colonialismo algorítmico” ocuparam várias manchetes. Certamente vão ficar cada vez mais populares, como demonstra este artigo. Importante prestar atenção no pensamento de seus autores e sua autora, todo(a)s mais ou menos conectado(a)s por seus trabalhos na DeepMind: Shakir Mohamed, Marie-Therese Png e William Isaac. Shakir Mohamed é uma das vozes mais atuantes na reflexão sobre a necessidade de uma inteligência artificial “queer”. Gosto também de seu primeiro ensaio sobre descolonização maquínica ter sido escrito ao som de Sons of Kemet, uma das minhas bandas preferidas.
  • sobre diversidade racial e geográfica na IA duas indicações: uma boa leitura e uma boa iniciativa. E para aprender sobre sensores e tecnologia de vigilância “festejando”: CryptoHarlem!
  • outra brincadeira com GPT3 desta vez com criação de textos de filosofia: PhilosopherAI!
  • mas cuidado com essas brincadeiras… está sendo cada vez mais repetida a pergunta: o que contribui mais para a catástrofe climática, ver um filme no streaming ou uma viagem intercontinental de avião? Os parques de computadores capazes de satisfazer nossa voracidade informacional e aprender com nosso entretenimento produzem maiores nuvens de dados ou de CO2? Este estudo traz cálculos assustadores. Bom para ficarmos mais sabido(a)s para as próximas batalhas.

danças

02/06/2020

Uma das coisas que mais gosto de fazer na internet é ver gente dançando. Sites de vídeo juntaram todos os quartos do mundo numa infinita pista de dança, há tempos um balaco planetário com certo distanciamento social. Primeiro fiquei fã de coletivos como este, pioneiros da dança online (este vídeo foi publicado no início de 2007, o YouTube é de 2005). Eu vibrava tanto com a dança quanto com a decoração do quarto, com aquela tábua de passar roupa encostada na parede. Mas gosto também de gente dançando na rua, como esses colegiais de Durban, África do Sul, mestres na dança do gqom (estilo musical radical, bom até no nome que tem aquele som de língua estalada que um dia vou dominar). Há planejamento para a reabertura de suas escolas em breve – será que as danças, agora com todo mundo mascarado, voltam também? Ou dança vai virar atividade caseira, seguindo a escola YouTube?

imigrantes

04/04/2018

Prova recente dos benefícios da imigração para a inovação cultural: o número crescente de filhos de imigrantes nigerianos que já se tornaram criadores centrais no mundo das artes dos EUA. O nome de Chimamanda Ngozi Adichie é talvez o mais conhecido desta turma poderosa. Ela já recebeu até aquela bolsa para gênios da Fundação MacArthur, além de ter feito discurso feminista em hit da Beyoncé. Mas há muito mais gente de mesma situação étnica-social-transgeográfica começando a ocupar a lista dos artistas americanos mais influentes do momento. Estou aqui para falar de Nnedi Okorafor e Chino Amobi. (Informação adicional: os três – Chimamanda, Nnedi e Chino – têm pais, além de nigerianos, da etnia igbo. Mas lembro agora de um quarto nome, não menos influente, o do escritor Teju Cole, que é iorubá.)

Acabo de ler a trilogia Binti, de Nnedi Okorafor. O terceiro livro foi lançado em janeiro. São todos curtinhos. Tanto que o primeiro ganhou os prêmios Hugo e Nebula – para quem não sabe: os mais importantes da ficção científica – para “novellas”. Podem portanto ser lidos de enfiada, com fiz com enorme prazer. Minhas últimas leituras de FC tinham sido os calhamaços de Kim Stanley Robinson, a trilogia do “problema dos três corpos” de Cixin Liu, e o “Seveneves” de Neil Stephenson, todos extraordinários, mas que fundiram meus miolos com doses cavalares de ciência duríssima, de mecânica orbital a genética aplicada. Há essa tendência na FC do século XXI (um pouco menos em Cixin Liu) de só escrever sobre o que pode realmente acontecer respeitando todas as leis científicas. As viagens demoram séculos, a gravidade dentro das naves não pode ser fruto de um passe de mágica etc. Então foi ótimo e relaxante reencontrar a magia (ainda mais com base panafricana) do tudo é possível em Nnedi Okorafor. Mesmo com as questões que levam a personagem Binti, garota fascinante, a primeira de seu povo a viajar pela galáxia, a viver a maior crise de identidade de todos os tempos, consequência de violentas mestiçagens alienígenas.

Importante ver uma mulher negra, com base cultural tão africana, se tornar um dos principais escritores de FC de agora. Nnedi não nasceu nerd, não lia FC na adolescência. Mas nas férias com os pais na Nigéria dos anos 1990 descobriu uma Africa tecnológica (celulares nas aldeias remotas etc.) que não estava retratada em literatura alguma. Escrever FC foi o atalho que encontrou para pensar/debater essa realidade. Deu certo. Hoje não para de trabalhar. Atrai convites os mais variados e impressionantes. George R. R. Martin, o criador de Game of Thrones, está produzindo uma série baseada em “Quem teme a morte“, um dos primeiros sucessos de Nnedi, para a HBO. Ela também já escreveu para a franquia “Guerra nas estrelas” e vai publicar uma história em quadrinhos com o Pantera Negra. Todo mundo quer tirar uma casquinha de sua imaginação pós-imigrante de discípula africana de Octavia Butler.

Chino Amobi também é fã de Octavia Butler. Sua música pode ser ouvida como, entre muitas outras possibilidades, FC. Seu primeiro álbum, Paradiso (o inferno de Dante e o gótico de Edgar Allan Poe em forma de muito barulho bom), foi eleito o melhor lançamento do ano passado pelo time de críticos reunido pela revista The Wire, a publicação mais importante para quem se interessa pelo futuro da música, ou pelo lado mais experimental da arte dos sons. Isso garante influência por décadas a seguir. Além de cuidar de seu próprio trabalho, Chino é um dos três afropolitas fundadores da NON Worldwide, república resistente tipo a Kalakuta do Fela Kuti, mas sem sede física, movimento virtual com ações concretas (em pistas de dança, museus, galerias etc.) que fortalece as carreiras e batalhas de novos criadores da diáspora africana. Foi através da NON que entrei em contato, por exemplo, com a dupla FAKA (uma delas se chama Fela Gucci), arte transtudo da África do Sul.

Tudo animador, revigorante. Isso se junta às novidades constantes da filosofia africana, também migrantes, desterritorializantes. Imagine o que o mundo estaria perdendo se a imigração fosse realmente proibida, e todos os países vivessem cercados por “walls”.

shangaan-eletrificação do mundo

30/07/2011

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 22-07-2011

Richard “Nozinja” Methethwa, também conhecido por “Dog”, fez agradecimento público a Wills Glasspiegel, o responsável pelo lançamento de sua música fora da África do Sul: “ele me tirou da aldeia e me colocou no lugar ao qual eu pertenço.” Que lugar é esse? O palco do Rich Mix, novo centro cultural londrino – localizado no bairro vendido como o mais trendy da cidade – no qual Nozinja se apresentava pela primeira vez em solo britânico? Ou é lugar mais abstrato, aquele ocupado por celebridades mundiais, adoradas por platéias de todos os continentes? Óbvio: Nozinja estava em casa, como se nunca tivesse feito outra coisa na vida além tocar sua música pelo mundo afora, ou como se tivesse se preparado a vida inteira para aquele momento, com sentimento claro de que sua aldeia era pequena e que inevitavelmente iria se tornar influente cidadão planetário.

A transformação foi repentina. Até 2010 – apesar de produzir cerca de 50 mil discos por ano para a sua gravadora – era um nome a mais na cena musical do povo shangaan (ou tsonga – falante de uma das 11 línguas oficiais da África do Sul), ouvida apenas em aldeias pobres da fronteira com Moçambique ou nas áreas shangaan de Soweto, favela de Joanesburgo onde vivem muitos grupos étnicos que abandonam o campo para caçar dinheiro na selva urbana. Como aconteceu em tantas outras periferias globais, essa gente animada também descobriu no YouTube um espelho. Ali colocaram vídeos de suas festas de rua, inicialmente somente para comunicação aldeias-favelas. Mas não se fabrica mais isolamentos culturais como antigamente. As imagens estão na rede e podem ser consumidas por outros povos. Foi através do YouTube que Wills Glasspiegel, no seu apartamento do Brooklyn nova-iorquino, entrou em contato com a produção musical de Nozinja, que por sua vez estava criando uma nova roupagem, século XXI, para o pop shangaan.

Ninguém sabe ao certo como essas microtendências viram “virais”. Talvez Wills Glasspiegel tenha uma boa rede de amigos-formadores-de-opinião-mundial, ou talvez exista por trás de tudo uma campanha de marketing poderosa, de nova empresa secreta. Os vídeos toscos de gente dançando a rapidíssima batida (no show, Nozinja não parava de anunciar os BPMs de cada música, até chegar aos impossíveis 185) totalmente eletrônica sul-africana passaram a ser recomendados nos sites de música “antenada” mais influentes, em meados de 2010. Logo depois foi lançado, com muitos elogios na imprensa on-line e off-line, a compilação “Shangaan Electro”, destaque em várias listas de “melhores do ano”. Gosto especialmente da crítica de Bruno Silva, publicada no ótimo site português “bodyspace.net”. Repare o adorável sotaque lusitano (como gostaria de escrever assim!), que encontra justificativa estonteante mesmo para a monotonia das bases sonoras de todas as faixas, excessivamente repetitivas, ou tolas: “É um facto que todas as malhas assentam arraiais numa instrumentação idêntica, mas dada a frescura de tudo isto, acaba por nem se revelar pernicioso. Trata-se de música de dança, no sentido mais verdadeiro da palavra, onde a repetição é via para a comunhão entre o corpo que não se cansa e uma mente ao abandono. Esbatem-se as diferenças, mas permanece um corpo de obra importantíssimo, cujo entusiasmo se revela sem parcimónia.”

Agora, neste verão de 2011 no Hemisfério Norte, Nozinja excursiona triunfal por vários festivais europeus, levando platéias ao delírio (como comentou Chico Dub aqui no Segundo Caderno, em sua cobertura sobre o Sonar, de Barcelona, plataforma de lançamento para muitas modas). Ao se apresentar no anfiteatro da Fundação Calouste Gulbekian, em Lisboa, foi alvo de resenha ainda mais apoteótica do nosso querido “bodyspace.net”: “Pode-se até começar por dizer que terá sido o melhor Domingo de 2011. Ou por referenciar o ambiente familiar (em todos os sentidos) que se fazia sentir no anfiteatro da Gulbenkian. Ou mesmo que, por momentos, este país se tornou um sítio um pouco melhor para se estar. Mais do que tudo isso, foi prova cabal de que a música tem mesmo a capacidade de inflamar corações.” (Gosto de pensar na vingança do colonizado, colonizando mentalmente o ex-colonizador: a favelização do povo shangaan, povo comandante do Império de Gaza, foi obra do colonialismo português que derrotou o Imperador Gugunhana, cujo nome era também Reinaldo Frederico e morreu exilado nos Açores.)

No Rich Mix londrino, eu percebia o mesmo entusiamo na platéia. Não era platéia afropolita, como a da festa do museu Victoria & Albert comentada aqui na coluna da semana passada. Era maioria branca, mas não menos chique e dava para perceber que não podia haver público mais caçador de tendências na cidade. Todos – o show lotou dias antes – pareciam contentes por se imaginarem os primeiros a ter acesso não virtual e exclusivo ao fino da próxima bossa (se Lady Gaga for mesmo esperta fará um remix shangaan electro de “Judas”, aquela faixa harley-davison de seu disco mais recente). Mas tudo isso não deixa de ser bem estranho. A transposição do vídeo de rua para o palco europeu funciona de maneira divertida, mas capenga. Tudo bem: vivemos época de microtextos, microtendências, microcenas – e também microentusiasmos. Nada é falso, e é bom enquanto dura. Tudo é pop-up, mesmo a alegria. Sejamos bem-vindos ao lugar ao qual Nozinja pertence.

urbanidade africana

28/12/2010

texto publicado na minha coluna do Segundo Caderno do Globo em 16-07-2010

Muita gente apostou que a Copa 2010, por ter sido realizada num país africano, seria o caos. As previsões preconceituosas indicavam explosão da criminalidade, com todos os turistas como vítimas, sobretudo em Johannesburgo, ainda classificada como “anticidade” mesmo por jornalistas brasileiros. Porém, campeão anunciado, os resultados em termos de violência foram insignificantes. Na falta de notícias piores, até a maconha da amiga de Paris Hilton foi celebrizada como escândalo internacional. A África do Sul conseguiu uma vitória simbólica: no imaginário global o continente negro já ocupa outro lugar, menos estereotipado. “A Fifa se vê aliviada”? Os efeitos não são apenas de mão única. Como disse Danny Jordaan, executivo da Copa, para o New York Times: “Não houve só as pessoas vindo aqui para descobrir a África do Sul. Houve os sul-africanos descobrindo a si mesmos.” O ex-presidente Thabo Mberi também afirmou que o evento pode ser interpretado como “uma declaração para nós mesmos de que temos a capacidade de mudar.” Os encontros entre culturas diferentes, quando bem realizados, têm esta capacidade: transformam, para melhor, o modo como nos vemos e como os outros nos veem.

Visitei Johannesburgo em 1997, três anos depois das primeiras eleições livres pós-Apartheid. Estava vindo de Moçambique, onde participara da filmagens de Além-Mar, série de televisão sobre lugares do mundo onde se fala o português. Tive um dia de folga. Todos os membros da equipe quiseram conhecer os animais do Kruger Park. Eu, que não tenho muita curiosidade com relação a feras rurais, resolvi descansar sozinho na selva urbana. A oportunidade era rara: sabia que Jozi, como seus habitantes típicos carinhosamente chamam a cidade, estava hospedando uma bienal de arte contemporânea.

Fiquei num hotel perto do aeroporto. Deixei minha bagagem no quarto e sai imediatamente para pegar um táxi, que me levaria ao local de uma das exposições, no centro da cidade. Quando mostrei o endereço para o taxista zulu, ele me olhou assustado, dizendo que eu não deveria ir lá de jeito nenhum, pois seria assaltado na certa. Ou pior: seria espancado, sequestrado, e iria acordar amordaçado num barraco de Botswana, país vizinho. Minha resposta: “eu me garanto: vivo no Rio, cidade perigosíssima!” O senhor cedeu aos meus temerários desejos de arte esquisita. Mas vi que sua preocupação era sincera, tanto que não me deixou sair do carro antes de até a porta do museu para se assegurar que havia realmente uma exposição acontecendo dentro do edifício. Passei algumas horas entre obras de arte, mas na saída resolvi arriscar ainda mais, passeando pelos arredores como o único “branco” (nunca quis ser branco, mas ali não tinha como convencer ninguém da minha condição mestiça) naquelas ruas. Depois de vários quarteirões entrei numa loja de discos, onde tive conversa ótima com os donos congoleses (eles ficaram encantados quando souberam que eu conhecia Kinshasa, onde tinha visto os grandes criadores da rumba zairense ao vivo), mas não encontrei nenhum disco de kwaito, a música que descobrira no rádio do táxi e era tão nova que não tinha discos à venda (e preciso declarar: uma cidade que produziu músicas tão excelentes quanto o kwaito e a mbaqanga não pode de maneira alguma ser uma anticidade). Fui então aconselhado a sair daquele bairro imediatamente. Obedeci.

Ainda bem que estive na Bienal. A exposição tem ainda hoje importância crescente, quase mítica. Acabou com a ideia de que a África só tem arte tradicional ou folclórica, revelando dezenas de novos criadores tão modernos quanto Hélio Oiticica ou Jeff Koons. A curadoria catapultou o nome do nigeriano Okwui Enwezor para a lista de mais poderosos da arte contemporânea, levando-o a comandar, anos depois, uma edição muito importante da Documenta de Kassel. Talvez essa Bienal tenha sido um dos motivos, mesmo indireto, que levaram o arquiteto Rem Koolhaas a fazer um grande estudo sobre a urbanidade de Lagos, megalópole da Nigéria que passou a ser vista como o “futuro” das cidades do mundo todo. A visão de Koolhaas por sua vez serviu de incentivo para novas pesquisas urbanísticas em cidades da África, feita por africanos e estrangeiros, que trazem algumas das ideias mais interessantes originais do pensamento de hoje, em qualquer área. Gosto especialmente dos escritos de Achille Mbembe, sobre a “superfluidez” de Johannesburgo, e de Abdoumaliq Simone, sobre a “espectralidade” de Douala. Mas indico com entusiasmo absoluto qualquer coisa que Filip de Boeck publica sobre Kinshasa, radicalizando ainda mais as ideias de Simone (corpos e pessoas, e não edifícios, como infraestrutura – pois infraestrutura não-humana ali é miragem) e propondo uma análise das cidades como “arquiteturas do verbo”. Tomara que esse afro-pessoal passe um dia no Brasil para estudar nossas metrópoles, também produtoras de precariedade e desigualdade radicais, e ao mesmo tempo de misteriosa e resistente vitalidade cultural. Gosto sempre de olhares estrangeiros que possam desafiar nossos próprios olhares, combatendo a preguiça de refletir sobre o novo de maneira nova.

NOTÍCIAS DO OVERMUNDO: Sou sempre bem surpreendido por cada música lançada pelo MC Priguissa, de Natal. Sua base é o ragga eletrônico jamaicano, mas cheio de outras bossas: reggaeton, embolada, funk carioca, e agora também carimbó e guitarrada. Confira neste link. Lançamentos da Coletivo Records, que mapeia as ecléticas novidades da produção musical potiguar.


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