Archive for the ‘ciência’ Category

complementos Ilustríssima 3

22/11/2020

Links para quem se interessou pelo texto publicado na minha coluna hoje:

O site do ModCovid19.

Mais detalhes sobre o experimento da feira de Maragogi neste artigo da Piauí.

A palestra do Tiago Pereira da Silva no 32º Colóquio Brasileiro de Matemática, realizado em 2019 no IMPA.

O projeto Tiago Pereira da Silva sobre redes complexas financiado pelo Instituto Serrapilheira.

Um artigo sobre sincronização do caos!

complementos Ilustríssima

27/09/2020

RECONVEXO

Hoje foi a estreia da minha nova coluna mensal no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo. São apenas 4.600 caracteres com espaços. Muita coisa importante ou interessante ficou de fora. Vou aproveitar este blog para comentários e links que complementem o que publiquei por lá. Estas listas de links são úteis para mim também. O blog vira uma espécie de aba de bookmarks pública. Para não esquecer…

Primeiro: o endereço do Instituto Mancala, fundado por Igor Miranda. O site do ContraCovid. O Oguntec do Instituto Steve Biko. Informações sobre Igor Miranda no Instituto Serrapilheira e na Universidade Federal do Recôncaco Baiano (UFRB).

A UFRB está completando 15 anos. O Recôncavo vem passando por uma excelente experiência universitária pública neste desafiador início de século. Além desta nova Federal temos também o Campus dos Malễs da UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) trazendo muitos estudantes de países africanos para o município de São Francisco do Conde (terra de meu amado Lindro Amor). É um laboratório de novos encontros pedagógicos, culturais, científicos e muito mais.

Acompanho com alegria, por exemplo, o desenvolvimento do trabalho do botAfala. Esse link, que por coincidência tem a ver com o post anterior deste blog, leva para o site Filosofia Pop, iniciativa valente liderada por Marcos Carvalho Lopes, que hoje é professor na UNILAB, mas que conheço desde sua fase goiana. O Filosofia Pop tem também um podcast. Recomendo com entusiasmo episódios mais recentes com entrevistas com filósofos africanos José P. Castiano, Filomeno Lopes e Severino Ngoenha. Que trio fascinante. Tomara que esse tipo de iniciativa contribua para o fortalecimento do intercâmbio filosófico Brasil-África.

Aproveitando o embalo: texto que publiquei anos atrás, também na Folha de S. Paulo, com proposta de descentralização de nossas relações acadêmicas internacionais.

MAIS IA

O convite para a coluna surgiu depois da publicação de meu texto sobre inteligência artificial também na Ilustríssima. Do momento da escrita para cá quanta coisa nova aconteceu ou quanta coisa nova aprendi no campo do machine learning. As coisas estão frenéticas. E também cada vez mais polêmicas, em várias frentes. Mais links:

  • as expressões “opressão algorítimica” ou “colonialismo algorítmico” ocuparam várias manchetes. Certamente vão ficar cada vez mais populares, como demonstra este artigo. Importante prestar atenção no pensamento de seus autores e sua autora, todo(a)s mais ou menos conectado(a)s por seus trabalhos na DeepMind: Shakir Mohamed, Marie-Therese Png e William Isaac. Shakir Mohamed é uma das vozes mais atuantes na reflexão sobre a necessidade de uma inteligência artificial “queer”. Gosto também de seu primeiro ensaio sobre descolonização maquínica ter sido escrito ao som de Sons of Kemet, uma das minhas bandas preferidas.
  • sobre diversidade racial e geográfica na IA duas indicações: uma boa leitura e uma boa iniciativa. E para aprender sobre sensores e tecnologia de vigilância “festejando”: CryptoHarlem!
  • outra brincadeira com GPT3 desta vez com criação de textos de filosofia: PhilosopherAI!
  • mas cuidado com essas brincadeiras… está sendo cada vez mais repetida a pergunta: o que contribui mais para a catástrofe climática, ver um filme no streaming ou uma viagem intercontinental de avião? Os parques de computadores capazes de satisfazer nossa voracidade informacional e aprender com nosso entretenimento produzem maiores nuvens de dados ou de CO2? Este estudo traz cálculos assustadores. Bom para ficarmos mais sabido(a)s para as próximas batalhas.

missão

30/06/2020

Minha intenção era publicar o post de ontem apenas para recomendar um podcast. A evolução da escrita me surpreendeu: o texto virou um manifesto para salvar o mundo. Já era tarde, eu estava cansado, com pressa para ir dormir, o terceiro parágrafo ficou totalmente incompreensível. Volto aqui para tentar esclarecer. Melhor aproveitar a argumentação de David Baltimore, que não é apenas excelente cientista de laboratório, mas homem de ação em muitos outros campos (e ele declara: “eu amo instituições”, por isso foi reitor de universidades etc.). Aproveito para fazer uma tradução e um resumo MUITO livres de trechos da sua entrevista para o Mindscape Podcast (o original está aqui em áudio e transcrição):

Precisamos ter em nosso armamentário, remédios que inibirão o desenvolvimento dos coronavírus. Todos os coronavírus estão relacionados uns com os outros. Todos fazem basicamente o mesmo conjunto de coisas. Eu diria que a indústria farmacêutica, com tempo e dinheiro suficientes, poderia produzir um remédio contra os coronavírus, e não seria necessário saber qual coronavírus específico para ter moléculas inibidoras. […] Deveríamos nos dedicar a isso agora, mesmo que seja tarde para a COVID-19. Para a COVID-20 e 21 e 22 não é tão tarde, e deveríamos nos dedicar a isso para que nunca mais sejamos atingidos como agora. […] Não vejo essa dedicação acontecendo. […] Enquanto dependermos do lucro, não vamos nos dedicar a isso […] Temos que encontrar uma maneira de financiar e incentivar a pesquisa pública e das universidades […] E não só para coronavírus. A mesma coisa é verdadeira para toda uma variedade de outros vírus. […] O novo coronavírus não é algo fora da curva, e deveríamos estar nos preparando uma pandemia como a atual. Houve os alertas com a SARS e a MERS que revelaram que os coronavírus tinham a habilidade de aparecer em novas formas que não conhecíamos, que estavam por aí no mundo. Deveríamos trabalhar para identificar cada vírus num morcego pois os morcegos parecem ser um reservatório eficaz para vírus que podem atacar seres humanos. Mas não são só os morcegos. Todo o mundo natural tem vírus com os quais precisamos nos preocupar. […] Devemos levar tudo isso muito a sério. Agora, faremos isso? Eu não sei. […] E eu não sei porque já sabemos disso há muito tempo. Isso é saúde pública. E a história da saúde pública nos mostra que quando uma coisa deixa de ser um problema imediato, então perdemos nosso foco e passamos a usar os recursos para outros fins e essa precisa ser a lição das lições

Que fazer? Hoje acordei com as notícias de um novo vírus parente do H1N1 entre porcos de fazendas chinesas. Vamos viver assim? Esse é o novo normal? Como encarar a lição das lições, inventar um novo movimento político para que essa pesquisa seja realizada com os recursos que precisa, com a transparência necessária? Esse novo movimento político tem que ter a força de uma pandemia. Não pode deixar por menos. E não dá para esperar que Bill Gates ou a OMS nos salvem. É missão para todo mundo, que não deve ser pensada apenas como uma batalha científica contra um vírus – para dar certo, certamente vai exigir mudanças profundas em todas as áreas de nossa vida atual. Mas não tem jeito: teremos que enfrentar o desafio.

física e virologia – e o mundo

29/06/2020

Essa moda de podcast me irrita. Mas é preciso reconhecer: o formato é ideal para os tempos que correm, com tanta (pre)ocupação de todos os lados. Colocamos os fones e podemos realizar outras tarefas pesadas. Música me distrai muito. Ouvir um podcast aperfeiçoa meu foco. Então aqui mais uma dica: o Mindscape Podcast. O apresentador, Sean Carroll, é físico, professor da Caltech, especializado em cosmologia, incluindo ondas gravitacionais e outros assuntos cabeludos. Sabe explicar bem questóes teóricas de ponta, extremamente complexas. Gosto dos episódios solo. Mas o podcast tem mais entrevistas, com uma lista incrível de cientistas estrelas de todas as áreas. Este ano começou com Daniel Dennett, uma conversa sobre consciência e reconhecimento de padrões. Recomendo especialmente o episódio com Jenann Ismael, autora do livro How Physics Makes Us Free, que eu não conhecia, mas agora considero uma das pessoas mais inteligentes habitando o planeta.

Ontem ouvi a entrevista com outra inteligência fascinante: David Baltimore, Nobel de Medicina, especialista em vírus. No site do podcast havia link para seu vídeo no iBiology, canal que disponibiliza pequenas aulas dos melhores biólogos do mundo de língua inglesa, tudo de graça. Passeando por ali, olhando os “veja também” do YouTube, comecei imediatamente a fazer o excelente curso de virologia de Vincent Racaniello na Columbia University (mas este vou demorar para completar, pois exige ficar sentado por várias horas na frente de uma tela). Repito: andei de mal com a internet, que se transformou neste perigoso trem fantasma de trolagem. Mas quando tenho acesso imediato a essa abundância de bom conhecimento percebo que nem tudo está perdido.

No iBiology encontrei também este vídeo importantíssimo sobre a transmissão de vírus de outros animais para seres humanos e a pesquisa para produção de vacinas. Estou convencido: ali há todo um projeto que precisa ser colocado em prática com urgência (David Baltimore fala a mesma coisa no final de sua entrevista no Mindscape Podcast, até bem mais enfaticamente). Não é só um projeto científico, ou de financiamento da pesquisa científica. Para virar realidade, e produzir uma vacina que evite também as próximas e inevitáveis pandemias (e a terrível pandemia atual é até leve se comparada ao que pode vir por aí – já aprendi que os vírus são bem impŕevisíveis, instáveis, em constante mutação – e os seres humanos, cometendo atentados contra o meio ambiente, cada vez mais próximos de focos de contaminação – no vídeo há a informação de que quase a totalidade dos coronavírus tem alguma relação com morcegos e no mapa que mostra as áreas onde há mais espécies de morcegos o Brasil é quase totalmente vermelho), precisamos de uma nova maneira de fazer política (ou diplomacia, vide Bruno Latour), de uma nova estratégia para identificar o que é prioridade econômica, de um novo entendimento sobre nosso lugar (o lugar da Humanidade) no planeta (que inclui a ação também urgente para evitar a catástrofe climática). Não é pouca coisa: é juntar todo mundo (naturezas e culturas) para salvar o mundo. Sou ingênuo o bastante para acreditar que é possível encontrar recursos e vontades para travar essa batalha. Já estou arregaçando minhas mangas e descobrindo como posso participar da luta.

PS: continua neste post

visão

26/04/2020

Acabo de ter uma visão incrível. Real. Lua nova e Vênus pertinho. Anoitecer. Fui investigar o resto do firmamento armado com aplicativo de observação celeste no celular. Quando encontrei o Cruzeiro do Sul (El karma de vivir al sur…) percebi umas luzes se movimentando velozmente, uma atrás da outra. Depois outras e outras, mais ou menos na mesma direção, de sudoeste para nordeste. Achei que estava alucinando. Muito alto para ser avião. Muito baixo para ser satélite. Chamei minha sobrinha para confirmar que eu não estava ficando maluco. Pensei até numa esquadrilha de discos voadores trazendo uma vacina para salvar nosso planeta, ou trazendo outro virus (a linguagem é um vírus vindo do espaço sideral…) Ela chegou a tempo de ver a última leva de ovnis, logo os mais exibidos: dois deles se contorceram emitindo uma luminosidade poderosa e assustadora. Depois sumiram.

Fui procurar disco voador e UFO no Twitter live. Nada. Pensei que poderia ser avião, vinham de uma direção paulistana. Baixei um aplicativo que rastreia voos. Foi interessante para ver como os céus da Terra estão vazios. Quase sempre avião de carga, ou voos da Qatar Airways sobre a Índia. Aqui, sobre o mapa do Brasil, nada que justificasse a minha visão. Fui procurar sites de rastreamento de satélites. Não imaginava que eram tantos, com vida social intensa. Logo no primeiro havia um chat com muitas mensagens recentes de gente de todo o Brasil vendo a mesma coisa. E a explicação: eram satélites do Grupo 4 da “missão” Starlink da SpaceX do Elon Musk.

Incrível mesmo. E bonito demais. Fiquei pensando: se a ciência foi capaz de produzir um enxame de satélites como este (parece que podem ser vistos sobre o Brasil todos os dias), como demora tanto para desenvolver uma vacina?

Fiquei com saudade de Lou Reed. Fiquei pensando em Laurie Anderson. Ela citou Satellites of love bem antes de casar com Lou Reed. Que casal bacana. Procurando Let X =X no YouTube encontrei este vídeo de sua performance no David Letterman em 1984. Veja a música e a entrevista no final. Que visão maravilhosa.