Archive for the ‘cibercultura’ Category

complementos Ilustríssima 6

13/02/2021

Links complementares para o texto de hoje:

Meio ano de coluna. Passa rápido. E não passa.

Sobre Melancolia.

A entrevista de Patti Smith. Traduzi “unrest” por desespero. Ela não queria dizer só “inquietação”.

Caetano Veloso vendo o Baiana System em ação no carnaval baiano. É o amor. Palmas. Caetano Veloso entrevista Russo Passapusso. Respeito.

O disco de dub do Baiana System. O show com Gil.

Mais sobre o Baiana System aqui mesmo neste blogue.

Meu artigo-manifesto em defesa de contatos diretos e descentralizados com o mundo todo.

O Navio Pirata. O clipe de “Reza forte”. O trailer de “Nauzila”.

Singeli: a introdução. Explorar o site do Nyege Nyege para descobrir muito mais.

Nem houve espaço para falar do Abbas Jazza, ministro não-oficial das comunicações do movimento singeli, também taxista em Dar es Salaam, medidador fundamental para a produção de “Nauzila”.

complementos Ilustríssima

27/09/2020

RECONVEXO

Hoje foi a estreia da minha nova coluna mensal no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo. São apenas 4.600 caracteres com espaços. Muita coisa importante ou interessante ficou de fora. Vou aproveitar este blog para comentários e links que complementem o que publiquei por lá. Estas listas de links são úteis para mim também. O blog vira uma espécie de aba de bookmarks pública. Para não esquecer…

Primeiro: o endereço do Instituto Mancala, fundado por Igor Miranda. O site do ContraCovid. O Oguntec do Instituto Steve Biko. Informações sobre Igor Miranda no Instituto Serrapilheira e na Universidade Federal do Recôncaco Baiano (UFRB).

A UFRB está completando 15 anos. O Recôncavo vem passando por uma excelente experiência universitária pública neste desafiador início de século. Além desta nova Federal temos também o Campus dos Malễs da UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) trazendo muitos estudantes de países africanos para o município de São Francisco do Conde (terra de meu amado Lindro Amor). É um laboratório de novos encontros pedagógicos, culturais, científicos e muito mais.

Acompanho com alegria, por exemplo, o desenvolvimento do trabalho do botAfala. Esse link, que por coincidência tem a ver com o post anterior deste blog, leva para o site Filosofia Pop, iniciativa valente liderada por Marcos Carvalho Lopes, que hoje é professor na UNILAB, mas que conheço desde sua fase goiana. O Filosofia Pop tem também um podcast. Recomendo com entusiasmo episódios mais recentes com entrevistas com filósofos africanos José P. Castiano, Filomeno Lopes e Severino Ngoenha. Que trio fascinante. Tomara que esse tipo de iniciativa contribua para o fortalecimento do intercâmbio filosófico Brasil-África.

Aproveitando o embalo: texto que publiquei anos atrás, também na Folha de S. Paulo, com proposta de descentralização de nossas relações acadêmicas internacionais.

MAIS IA

O convite para a coluna surgiu depois da publicação de meu texto sobre inteligência artificial também na Ilustríssima. Do momento da escrita para cá quanta coisa nova aconteceu ou quanta coisa nova aprendi no campo do machine learning. As coisas estão frenéticas. E também cada vez mais polêmicas, em várias frentes. Mais links:

  • as expressões “opressão algorítimica” ou “colonialismo algorítmico” ocuparam várias manchetes. Certamente vão ficar cada vez mais populares, como demonstra este artigo. Importante prestar atenção no pensamento de seus autores e sua autora, todo(a)s mais ou menos conectado(a)s por seus trabalhos na DeepMind: Shakir Mohamed, Marie-Therese Png e William Isaac. Shakir Mohamed é uma das vozes mais atuantes na reflexão sobre a necessidade de uma inteligência artificial “queer”. Gosto também de seu primeiro ensaio sobre descolonização maquínica ter sido escrito ao som de Sons of Kemet, uma das minhas bandas preferidas.
  • sobre diversidade racial e geográfica na IA duas indicações: uma boa leitura e uma boa iniciativa. E para aprender sobre sensores e tecnologia de vigilância “festejando”: CryptoHarlem!
  • outra brincadeira com GPT3 desta vez com criação de textos de filosofia: PhilosopherAI!
  • mas cuidado com essas brincadeiras… está sendo cada vez mais repetida a pergunta: o que contribui mais para a catástrofe climática, ver um filme no streaming ou uma viagem intercontinental de avião? Os parques de computadores capazes de satisfazer nossa voracidade informacional e aprender com nosso entretenimento produzem maiores nuvens de dados ou de CO2? Este estudo traz cálculos assustadores. Bom para ficarmos mais sabido(a)s para as próximas batalhas.

Radio Garden e outros jardins

11/07/2020

Escrevi o PS do post anterior para declarar meu amor pela música sudanesa e pelo Radio Garden, uma das coisas mais bonítas e incríveis que há na internet. É projeto inicialmente financiado por instituto holandês, também museu, encarregado, entre outras atividades, de cuidar do acervo audiovisual do país. Foi desenvolvido por dois estúdios de design interativo/experimental, o Studio Puckey e o Moniker (vale conhecer seus outros projetos). Adoro passear no Radio Garden. Procuro sempre transmissões de cidades do interior de países que não conheço. Ou clico por acaso em qualquer dos pontinhos verdes que iluminam a face radiofônica do mundo.

Que privilégio ter acesso a tanta coisa de maneira tão fácil, prática e bela. As novas gerações não devem ter noção de como tudo isso era inviável antes. Na adolescência eu explorava ondas curtas (ainda existem? não tenho mais aparelho para checar…) apenas para ouvir linguas diferentes, ou os programas de música africana apresentados pelo BBC World Service ou pela Voice of America. Mas a qualidade sonora era péssima, dependia até de haver nuvens ou não no céu. Agora tudo está disponível de forma clara e abundante.

Estranho muito esta situação: apesar da facilidade e da abundância, a maioria das pessoas continua com um consumo de música (e informação em geral) restrito, como se habitasse num mundo ainda regido pela escassez. Os streamings da vida são dominados por um punhado meio óbvio de celebridades. Parece o mundo “de antes”. Sem aventuras fora de quadrados geradores de claustrofobia. Talvez seja necessidade de ouvir e comentar o que “todo mundo” está ouvindo e comentando. E não importa as músicas ouvidas e comentadas, e sim a conversa sobre aquilo que se ouve e comenta. Mas sinto também que a própria produção artística não descobriu ainda estratégias para digerir bem este acesso facilitado a informações tão diversas. As “referências” continuam as de sempre. Não conheço, por exemplo, músicos brasileiros mixando novidades encontradas na Love FM de Phnom Pehn ou na Chuchu FM de Zanzibar.

Mas talvez seja inevitável que isso ainda acabe acontecendo. Essas possibilidades são recentes, nem nos tocamos de que estão disponíveis, ou não incorporamos suas vantagens em nossas práticas criativas, que permanecem focalizadas em poucas instâncias de consagração.

Alguém precisa criar jardins para outras áreas. Penso em como seria útil uma ferramenta como Radio Garden para facilitar nossas descobertas de cursos gratuitos sobre os mais diversos assuntos. Com recomendações sobre melhores aulas e mestres etc. (que não precisam ficar confinados à Ivy League – bom aprender também com professoras(es) de Fiji ou do Mali). Já há abundância para todas as disciplinas. Exemplo: tenho acompanhado o curso Inteligência artificial para todos ministrado por três valentes professores(as) ligados ao laboratório Aria da UFPB. Fiquei ainda mais orgulhoso de ser paraibano quando assisti à aula-conversa com Marianne Linhares, jovem engenheira da Deep Mind em Londres. Que trajetória impressionante e inspiradora, que simpatia e inteligência. Exemplo das maravilhas que a educação das universidades públicas brasileiras consegue produzir na marra, mesmo longe dos “centros” do país. Mas falo de Marianne Linhares neste post pois reparei bem que ao citar os cursos mais importantes de sua formação mistura aulas presenciais com aulas online, recomendando material disponível gratuitamente na internet como o melhor caminho para aprender machine learning.

Tudo isso precisa ser conhecido e aproveitado melhor. Por muito mais gente.

literatura e história

22/06/2020

Ouvi falar pela primeira vez no podcast Literature and History ouvindo outro podcast, o Arts and ideas da BBC, que embala muitas de minhas atividades há muito tempo. Era um episódio em que Philip Dodd entrevista até Larry Summers, ex-presidente de Harvard e secretário do Tesouro americano na presidência de Clinton etc., sobre o futuro das universidades, com atenção especial para o “declínio catastrófico” das Humanidades, cada vez com menos alunos e fundos. Dodd citou o exemplo contrastante do sucesso de Literature and History, com mais de 1 milhão de downloads, como elemento para apimentar o debate. Se um podcast que dedica quatro episódios, cada um com mais de 1 hora de duração, para a Eneida de Virgílio consegue atrair tantos ouvintes, por que os cursos universitários sobre os mesmo assuntos estão cada vez mais à míngua?

Não quero aqui entrar nesse debate muito complicado. Nem conheço bem esses números “catastróficos”. Quero apenas aumentar um pouquinho o número de downloads dos episódios de Literature and History. Doug Metzger, seu apresentador, certamente fala pelos cotovelos (mais de 2 horas sem parar sobre O Asno de Ouro!), mas é um contador de histórias literárias encantador. Como aprendo coisas novas (e a coisa que mais gosto na vida é aprender coisas novas) ouvindo sua voz nos fones. Foi assim, que descobri, por exemplo, que faço aniversário no dia em que a Oréstia foi encenada pela primeira vez. Isso deve explicar algumas de minhas maluquices cognitivas. Mas de qualquer forma: é sempre reconfortante ser lembrado, em tempos de pandemia, que a humanidade já enfrentou eras nas quais a barra pesou tanto quanto agora. O episódio mais recente é sobre a Judeia sob Herodes…

E no podcast descubro outros podcasts, ao infinito. Doug Metzger já recomendou, por exemplo, The Mirror of Antiquity ou Trojan War. Muita gente bacana compartilhando conhecimentos preciosos.

nova dramaturgia popular

14/06/2020

Entre os inúmeros e excelentes talentos do meu amigo, e parceiro de trabalhos na quarentena, Renan Bianco, o que tem me proporcionado mais alegrias é sua capacidade de descobrir muita gente criativa na internet, revelando muita coisa que para mim já indica o nascimento de uma nova dramaturgia popular brasileira. Posso estar deprimido, mas quando chega algum de seus sempre surpreendentes links sei que vou ficar animado novamente. Foi assim que ontem, por exemplo, eu me apaixonei pelos vídeos produzidos por Faela Maya, que no Instagram se descreve como blogueira fracassada, digital sem influência, e produtora de “humor made in Interior”, mais especificamente na cidade de Jaguaribe, Ceará. Para dar uma ideia, dois links: este e mais este. São tantas as informações importantes sobre o quotidiano confinado nas periferias brasileiras que o conjunto da obra poderia ser saudado como uma tese de antropologia visual. E também é impressionante o domínio, intencionalmente tosco, da construção dramatúrgica via novas tecnologias.

Claro: essas coisas lembram os primeiros vídeos do Carlinhos Maia ou tudo o que me interessa no Whindersson Nunes. Mas obviamente há uma tradição mais antiga alimentando cada frame de cada vídeo publicado descentralizadamente em tantas redes sociais (o Tik Tok é território lotado por gente trilhando caminhos semelhantes, muito difícil acompanhar tudo ou ter uma visão geral do fenômeno – “problemas” da abundância). Penso nas encenações teatrais que integravam os shows musicais diários que Tonico e Tinoco faziam no início de suas carreiras (uma vertente que iria dar no cinema com Mazzaropi). Penso mais: nos teatros de mamulengos, ou nas inúmeras encenações folclóricas que o povo brasileiro chama de brincadeiras, e que são constantemente remixadas em sua longa história criativa (e que depois são remixadas em ambientes mais oficialmente reconhecidos como Arte – li recentemente, maravilhado, as peças A pena e a lei e As conchambranças de Quaderna, de Ariano Suassuna – como são atuais!). Outro link, desta vez cortesia generosa de Gustavo Nogueira, outro amigo parceiro de trabalhos de quarentena: esta família que faz paródias das coreografias das comissões de frente de escola de samba. É muita ideia boa.

Certamente: o humor é traço comum. Bakhtin explica. E via humor conseguimos entender melhor as transformações recentes da sociedade brasileira, que as interpretações mais sérias têm muita dificuldade de compreender, e até de enxergar. Acompanho com muito interesse, igualmente, a evolução do humor evangélico brasileiro, algo que parece que nem entra no radar de muitos comentadores preconceituosos (que acreditam que o neopentecostalismo não tem humor nenhum), das paródias do Pastor Jacinto Manto (procure no GloboPlay uma entrevista que o Pedro Bial fez com ele há vários anos, o que mostra como não é algo que apareceu ontem) aos memes produzidos pelo perfil Instagram gospelmente (“#HumorCristão, edificação e Entretenimento!” – outra dica do Renan Bianco). E muito mais.

É preciso prestar MUITA atenção nessas novidades, e nas conexões dessas novidades com a história da cultura brasileira. Não adianta: nada é simples, ou fácil de entender: o Brasil é MUITO complexo.