Tony Njoku acaba de publicar o video de sua nova música 100% 4 Beauty. É mesmo uma beleza. Segue o padrão dos vídeos anteriores, quase sempre só seu corpo em cena, com dança desconcertante. Agora com um casaco que brilha mais que sol (More brilliant than than Sun, o livro brilhante de Kodwo Eshun que parece que vai ser finalmente relançado em breve). E a letra termina assim: “a beleza é minha salvação / a beleza é minha convicção / a beleza é minha proteção”. Reza. Profissão de fé desesperada em época horrível.
Sua voz é também uma beleza. Já uma das minhas vozes inglesas preferidas, junto com a de Michael Kiwanuka, meu herói. Posso escutar seu disco Kiwanuka sem parar. Beleza pura (tente não chorar com esta e esta outra).
Repare nos sobrenomes. Njoku, Nigéria. Kiwanuka, Uganda. Já escrevi neste blog sobre a explosão de criatividade que filhos de imigrantes africanos desencadeiam na cultura contemporânea dos Estados Unidos. Citei quatro nomes como prova: Chimamanda Nogzi Adichie, Teju Cole, Nnedi Okorafor e Chino Amobi. Agora estou aqui para saudar o mesmo fenômeno no Reino Unido.
Não só Tony Njoku e Michael Kiwanuka. Pense nas grandes estrelas do grime, estilo que deixou a periferia para ocupar o centro da indústria musical do país do Brexit. O nome completo do premiadíssimo Stormzy, principal atração do palco principal do festival Glastonbury no ano passado, é Michael Ebenazer Kwadjo Omari Owuo Jr. Skepta se chama Joseph Junior Adenuga. Dizzee Rascal é Dylan Kwabena Mills no passaporte (que usou para vir tocar no Tim Festival). E assim por diante, sem parar. Como pensar o melhor da identidade britânica sem esses nomes de famílias africanas?
Aproveito para mandar um salve também para o enraizamento do grime no Brasil. Tomara que apareçam logo colaborações com imigrantes africanos, e de outras procedências, que desembarcaram por aqui em tempos recentes.
Em resumo: como canta Michael Kiwanuka: você não é o problema.